O “petit h”, da Hermès: criatividade e empreendedorismo.

Reaproveitamento de matéria-prima no mercado de luxo.

large_hermes-petit-h-madison-03Fonte: CoolHunting.com

Empreender no Brasil deveria ser uma passagem obrigatória para qualquer cidadão, como um Inferno de Dante. Empreender no Brasil deveria ser disciplina nas escolas. O sonho de ser dono do seu próprio negócio logo se transforma no pesadelo da alta carga tributária e a falta de incentivos.

Existe, no entanto, um lado positivo do empreendedorismo no Brasil: aprende-se a viver com pouco. Você sente constantemente o fantasma da finitude dos recursos. Isso nos força a ser criativos: aproveitar o que temos à disposição e na quantidade que nos é oferecida. No entanto, a criatividade sem uma visão estratégica de negócios pode ser tão útil quanto vender pedras de gelo em formatos divertidos no Polo Norte—bonitinho, mas sem uma utilidade aparente.

Criatividade, então, não é apenas fazer algo a partir da matéria-prima disponível. É, principalmente entender o contexto das necessidades existentes à sua volta: “a necessidade é a mãe da invenção”, como diria o filósofo Platão. Sendo assim, a criatividade e o reaproveitamento de recursos podem—e devem—manifestar-se em qualquer nicho de mercado, até mesmo no de luxo.

Desde 2010, a maison Hermès criou um atelier— petit h (pequeno h)—onde, em colaboração com artistas e designers, são criadas peças e objetos funcionais a partir das sobras e rejeitos da linha de produção principal de bolsas, selaria e acessórios. Retalhos de couro, bolsas e echarpes reprovadas no controle de qualidade são inseridos novamente na cadeia produtiva e tornam-se capital ativo, mas ainda com o apelo de luxo. O fato de serem peças feitas de remanescentes não implica que sejam acessíveis economicamente. A estratégia do petit h é oferecer produtos de tiragem limitada e sazonais para criar o ideal de desejo (elemento chave do mercado de luxo) a partir do que seria erroneamente considerado lixo.

6jf_3949_lDivulgação: Bolsa Petit h Skeleton (tela e couro), feita com o corte de couro remanescente da fabricação de um modelo Birkin ou Kelly.

Dentro do contexto de uma nova economia criativa, é preciso desconstruir a ideia pré-concebida quanto ao reaproveitamento e a reciclagem como práticas e produtos inferiores. Ao pensarmos diferente, lançamos um novo olhar sobre as coisas, e destas surgem novas ideias que compreendem a qualidade e o potencial econômico inerte no que para outros é descarte.